sexta-feira, 20 de abril de 2018

Mãe, eu também sinto a sua falta!



Uma carta para a minha, e todas as mães que “perderam” seus filhos para o mundo.

Mãe, não sei nem por onde começar, pois sei que você sofre com a minha ausência. Sei que as vezes quando está sozinha no quarto, e meu pai não está com você, lágrimas de saudades correm dos seus olhos. Saber disso me mata por dentro.

Sei que as vídeo-chamadas não suprem um abraço apertado. Que as mensagens de WhatsApp não suprem nossas longas conversas no sofá antes de dormir. 

Te peço desculpas se um belo dia resolvi mudar, sair de uma vida que não me completava. Desculpa por ter me encontrado aqui do outro lado do oceano. Por ter encontrado uma vida tranquila e feliz. As vezes me sinto até culpada por me sentir tão feliz aqui, porque sei o quanto você sofre.

Queria só que você soubesse de uma coisa: eu também sinto uma puta falta de você. Penso em você todas as noites antes de dormir. E quer saber de outra coisa? As vezes sonho que estamos juntas, que estamos todos reunidos à mesa no domingo pra comer sua deliciosa lasanha. Mesmo sonhando, consigo sentir o mesmo cheiro de quando ela saía do forno.

Também sinto falta de acordar no sábado de manhã e tomar um cappuccino comendo pão de queijo com você no posto perto de casa. Éramos somente eu e você! Conversávamos sobre tudo, afinal você sempre foi a minha única melhor amiga. Só você sabe tudo sobre mim. 

Sinto falta da sua pele macia, do seu colo, do cheiro do seu travesseio, das suas manias de acumular tudo que você tem. Aquele armário no canto direito da cozinha ainda é cheio de potinhos sem tampa? Lembra como me irritava quando não conseguia achar a tampa certa de cada potinho? Ou quando ia pegar um deles e todos os outros potinhos caiam na minha cabeça?

Quero que você saiba que penso sempre em você, quando me olho no espelho, vejo a tua imagem na minha, quando cozinho queria muito que você visse, para se orgulhar da menina que fazia somente miojo e ovo cozido e que hoje faz risotos e pratos italianos um pouco mais complicados - graças às receitas que pego na internet. 

Sinto falta da sua voz, pessoalmente, não aquela de celular, não aquela de mensagem de voz, mas sua voz, mesmo quando estava brava comigo, qualquer voz.

Sim, mamãe, também sinto sua falta, e muita, é isso não mudará jamais!

Te amo!

domingo, 8 de abril de 2018

Napoli, a cidade mais linda do mundo!

Napoli, Naples, Nápoles...

Independente de como chamamos, Napoli é Napoli! É a típica cidade que só quem vai, entende!

Não é só porque é a cidade dos meus avós e de praticamente toda a minha família, mas Napoli tem uma energia diversa e, pelo menos uma vez na vida, merece ser visitada! 

O napolitano é um povo diferente, está sempre alegre, brincando, falando alto (gritando praticamente), o sangue do napolitano corre de uma forma diferente em suas veias, mais rápido talvez, sei lá, pode ser por isso que o napolitano tem o sangue mais quente. 

O napolitano fica bravo, fala ainda mais alto, em dialeto, e depois de uma hora aquela mesma pessoa que estava quase brigando com você é capaz de te dar um abraço. A família napolitana é mais protetiva, a mãe napolitana nunca vai aceitar os filhos longe de casa, mas infelizmente isso acontece muito, porque em Napoli as oportunidades de trabalho não são muitas. 

O homem napolitano também é diferente de qualquer homem que uma mulher pode conhecer, te proteje de tudo e de todos, você será o centro da atenção dele, que nunca deixará faltar nada em casa, principalmente emocionalmente. São amantes naturais! E tem o pensamento um pouco (muito) mais retrógrado. O que é lindo nos dias de hoje! Modernidades como sair sozinha com as amigas pode incomoda-lo, porque eles, demonstrando ou não, tem sempre ciúmes da sua mulher. 

Ah, Napoli! Sempre caotica. Vocês acham o trânsito de São Paulo ou Rio uma bagunça? É porque nunca veio para Napoli. É carro que vem por todos os lados, não respeitam semáforos e faixa de pedestre, nem mesmo a própria faixa de trânsito. Não colocam a seta e nem o cinto de segurança. Uma das primeiras vezes que vim, meu primo veio me buscar na estação central, a primeira coisa que fiz no banco do passageiro foi colocar o cinto de segurança, meu primo me olhou na hora disse: “melhor tirar o cinto, porque senão eles já percebem que você é de fora.”

Nas vielas de Napoli garotos de 14 anos já dirigem motos  - que eles chamam motorino, e é claro, sem capacete! Ou seja,  muito carro, muita gente, muito motorino, buzina, as vezes se xingam entre eles no trânsito, na rua, mas nunca vi ninguém saindo na mão. É o jeito deles! Uma vez sentei em um banco por uma hora e meia, e fiquei observando o trânsito, não consigo quantificar o número de risadas que dei.

Napoli é a capital mundial do comer bem! A melhor pizza, o melhor macarrão, a verdadeira  sfogliatella, o baba... caminhar pelas ruas de Napoli é perder os sentidos com o perfume de doce que toma conta do ar enquanto respiramos. De domingo, é sentir o aroma do molho vermelho que escapa pelas janelas dos apartamentos, do ragù feito pela nonna ou mamma, que cozinha por horas para ser devorado em poucos minutos. E como se come. Em uma família napoletana o almoço começa às 13h e termina somente as 17h, com todos sentados na mesa da cozinha, que é o ambiente da casa mais utilizado por lá, conversando e, óbvio, comendo.

Fazer parte de uma família napoletana, é aprender que comida não se joga fora e se sobrar macarrão e um pedaço de carne, no dia seguinte se faz uma bela fritada. É ir em uma pizzaria, ter uma pizza gigante sobre o prato e receber improvisadamente um pedaço da pizza do seu tio avô, que nem pergunta se você quer experimentar um pedaço da pizza dele ou não, pois ele faz questão que você a experimente. 

A família napoletana não sabe o que fazer para ver o hóspede bem! Uma vez fui na casa de uma tia e disse que tinha vontade de ir pra Capri, mas que se podia organizar para uma outra vez, no dia seguinte, quando acordei, eles já tinham comprado até o bilhete do traghetto (o barco que sai do Porto de Napoli e vai até Capri).

Fazer um passeio pela cidade é a coisa mais linda. De um lado o Vesuvio, do outro à beira mar, e atrás prédios lindos que foram construídos na montanha e que rendem a paisagem ainda mais linda.

Já ouviram uma música napolitana? Arrepia já na primeira nota! Porque a música napolitana é cheia de sentimento, da letra, passando pelo ritmo até chegar no timbre de voz dos cantores. 

Ser napoletano é quase não ser italiano, porque o napolitano é napolitano! 

Você tem uma lista de coisas que tem que fazer antes de morrer? Conhecer Napoli deve ser uma delas, pois na Itália temos um ditado que diz: “Vedi Napoli e poi muori” (ver Napoli e depois morrer), perché Napule 'a città cchiù bell 'rò mun (em dialeto)... 

(Que em italiano seria: lá città più bella del mondo. Em português: a cidade mais linda do mundo.)

segunda-feira, 5 de março de 2018

Aviso importante: você nunca será um deles!

Aviso importante: você nunca será um deles!

Morar fora é maravilhoso! Uma experiência única em muitos aspectos. Dentre esses aspectos temos os positivos e alguns negativos, mas tem um negativo que considero uma obrigação contar pra vocês. Sempre escrevo coisas lindas, como se morar na Itália fosse sempre rosas e flores.

Assim que cheguei aqui na Itália, quando estava trabalhando em uma pizzeria como garçonete, em um dos meus momentos de pausa, estava conversando com o pizzaiolo e sua esposa, também garçonete, que vieram da Romania para a Itália há 10 anos, e eles me disseram: “Marina, essa nunca vai ser a sua casa, você nunca será um deles, ainda que você tenha a cidadania italiana”. Naquele momento nem dei bola para aquilo, pensei que talvez eles que nunca tivessem se adaptado. 

Nesses dois anos aqui, posso dizer que até o presente momento eles tinham razão. Apesar de ter cidadania italiana, falar italiano fluente (sempre com o sotaque de um estrangeiro), ter crescido em uma família italiana, quando você começa a frequentar os italianos mais a fundo você percebe, em pequenos detalhes e momentos, que você não é, e nunca será, um deles.

Infelizmente brasileira - e eles generalizam mesmo - não é muito bem vista aqui na Itália, pois para eles as brasileiras não veem a hora de encontrar um italiano, casar e conseguir a permissão para morar aqui toda a vida. 

Mas independente do fato de sermos brasileiros ou de outro país nós nunca seremos como eles, mesmo se nossos avós ou pais são/eram italianos, nós nascemos e crescemos no Brasil. Então segundo eles, não podemos saber como são as coisas aqui. 

Tudo na Itália é melhor. Italiano só compra coisas produzidas ou fabricadas na Itália (tirando carro, que adoram os alemães). Nas embalagens dos produtos no supermercado vem escrito: “produto 100% italiano” ou “produzido na Itália”. 

Eles odeiam a imigração. Se lamentam sempre que a Itália está sendo invadida. Já ouvi dizer aqui que é injusto alguém ter a dupla cidadania (quando disse que tenho a cidadania brasileira e italiana). 

Quando disse que ia legalizar meu diploma, ouvi uma advogada italiana dizer: “mas você não conseguirá convalidar seu diploma aqui na Itália, o direito muda muito de um país para outro, o que vocês estudam no Brasil não é aquilo que estudamos aqui”. 

Coitada!

E ainda contou que quando voltou de suas férias de 15 dias tinha 400 e-mails na caixa de entrada. Achei melhor não dizer que 400 e-mails era aquilo que eu recebia por dia no escritório que trabalhava.

Aqui, por exemplo, eles fazem a troca de estação nos armários: no verão armário só com roupa de calor e no inverno só de frio. Me disseram: “como você vai organizar todas as roupas em um mesmo armário? E a troca de estação?”. Eu respondi que estava acostumada com isso, pois no Brasil temos armários já com todas as roupas dentro, inverno e verão, e que eu não tenho que colocar todas as roupas de uma estação no sótão para dar espaço às outras roupas.  E adivinhem a resposta: “mas você está na Itália, não no Brasil”. 

As vezes da vontade de fazê-los ver um filme de como era a minha vida no Brasil, porque ninguém está aqui porque passava fome, eu vim com o mesmo escopo que meus avós ITALIANOS foram para o Brasil há 60 anos atrás: qualidade de vida, e meus avós foram muito bem recebidos no Brasil. Eu também fui muito bem recebida aqui, sempre fui muito bem tratada e sempre adoraram o fato de ser brasileira, porque eles adoram o Brasil, mas toda essa simpatia e adoração vai até o momento em que você não os frequenta com um pouco mais de intimidade. Afinal, todo pai italiano prefere uma namorada italiana para seu filho, 100% made in Italy! 

Enfim, isso não me faz amar menos a Itália, ou me faz ter vontade de voltar para o Brasil. Me encontrei como pessoa aqui. Conheci uma mulher forte e ainda mais determinada, me apaixonei por mim mesma, mas achei importante dividir, ou até desabafar, esse aspecto negativo da Itália com vocês! 



sábado, 17 de fevereiro de 2018

Sobre criar sua própria ocasião!

Sobre criar a sua ocasião!


Ontem vi pela terceira vez o filme Menina de Ouro, que é baseado em fatos reais. O filme conta a história de uma mulher que aos 31 anos tem o sonho de se tornar uma grande boxeadora. Depois de muito treino e tantas vitórias em campeonatos amadores, ela recebe uma proposta para participar do campeonato mundial. 

No entanto, um golpe desleal de sua adversária a faz cair com a nuca sobre um banco, lesionando permanentemente as vértebras C1 e C2. Após alguns meses no hospital, e conscience que ficaria pelo resto da vida deitada em uma cama, a protagonista pede ao seu treinador que lhe aplique uma injeção letal para que, assim, possa dar fim a todo aquele sofrimento.

No início ele foi relutante, mas depois de conversar com seu assistente, que lhe falou sobre ocasião, seguiu diretamente para o hospital e assim o fez.

Aquilo me fez pensar e muito!

OCASIÃO. 

Quantas pessoas se deparam com uma ocasião na vida? Na realidade a pergunta é outra: quantas pessoas lutam pela sua própria ocasião?

Criar uma ocasião não depende dos outros, mas sim de nós mesmos! Lutar por aquilo que queremos, fazer de tudo para realizar um sonho. 

Porque hoje os sonhos parecem tão distantes, e, muitas vezes, ficam na zona de esquecimento?

Talvez por estarmos sempre ocupados demais e em busca de algo que não sabemos nem ao certo o que é. 

Deve ser triste passar toda uma vida sem concretizar aquilo que se deseja, mas pior ainda é saber que não conseguimos porque nem tentamos. Tentar é a chave do sucesso. Infelizmente nem todos que tentaram conseguiram, mas 100% daqueles que conseguiram, tentaram. 

Minha ocasião de mudar de vida eu criei, vim pra Itália, me divorciei e vivo intensamente um novo amor. Após me permitir, além de ganhar autoconfiança, eu senti que todo o universo conspirou a meu favor. Porque eu sabia que não ia esmorecer tão fácil. Sempre estive focada no meu projeto: ter uma vida melhor! 

Sabia que não seria fácil no começo, sabia que eu teria que caminhar com as minhas próprias pernas, e eu consegui. Aprendi que o meu sucesso depende de mim, aprendi que se eu não for atrás daquilo que quero, ninguém vai bater à minha porta e dizer: “olá, trouxe seu sonho aqui nessa caixa, agora só realizar!”.

Aprendi a diferença entre tentar e lutar por aquilo que eu quero. EU CRIEI A MINHA OCASIÃO. E hoje me sinto pronta pra tudo, pra vida e pra morte (claro que espero que seja daqui 100 anos), mas o importante é que conquistei a minha paz interior e a cada dia que passa me apaixono ainda mais pela mulher que me tornei.